Nas duas hastes de
um hashi se encontra o começo e o fim de tudo
Do
jeito japonês de segurar duas hastes de hashi, quando posicionadas na altura do
peito, elas ficam em paralelo para nos lembrar da dualidade da vida (material e
espiritual). No momento da alimentação é fundamental refletir sobre a
subsistência do corpo e da alma, sobre o equilíbrio necessário na manutenção da
vida, e com sinceridade, agradecer aos produtores, aos quem abastecem, e em
especial, a dedicação de quem cozinha, persistindo na esperança de que cada
alimento nos chegue com as graças de um círculo virtuoso, positivo e com
energia benéfica dedicada ao serviço em prol do coletivo.
As
hastes são de bambu, uma gramínea de crescimento rápido e vigoroso,
representando a abundância da natureza, que sempre provê todos os seus filhos.
Após o uso vão para o fogão virar a lenha que aquece a alquimia da
transformação do alimento e, no final, o pó, do qual viemos e para qual retornaremos
um dia para abastecer o ciclo da vida.
As
hastes não são limpas e nem guardadas, primeiro para não desperdiçar água pura para
limpar as impurezas da matança que só o fogo remove, e segundo para mostrar a
ilusão das posses, do ouro e da prata, das infrutíferas ambições, do gasto de
tempo, de energia e de preocupações para manter diversas coisas fúteis
funcionando, além das convenções sociais confundindo a educação de valores
humanos pelas regras de etiqueta.
A
convenção japonesa desaconselha que as hastes de hashi sejam colocadas em
direção ao rosto, preferindo levantá-las acima da boca para abocanharmos o
alimento, obrigando que nos curvemos em reverência ao sagrado alimento, e
assim, constantemente, lembrar o bom senso que é evitar a prepotência humana
defronte tudo e todos, por mais “inferior” e “domesticado” que possa parecer.
Cada
haste é uma reta, portanto, o menor caminho entre dois pontos. O que existe antes
do começo e depois do final da haste de bambu é invisível, mas está lá, tais
quais as diversas escrituras e ensinamentos de nobreza espiritual estão para conduzir
as pessoas no caminho reto e protegido da fé.
Agradeça
a todos os obstáculos, por mais desesperadores que possam se apresentar, porque
só inserido no caos e convivendo com forças antagônicas é possível sair do
torpor da aceitação pacífica, desamarrar-se das correntes da prisão e ter
coragem de dizer sim para eliminar tudo o que te prejudica e destrói. Este é o
caminho exigido pela evolução pessoal e a propulsão necessária para se elevar sobre
as ignorâncias e mediocridades estabelecidas na sociedade.
Viver
é constantemente desatar nós e se lançar, vestido de nobres atitudes, às novas perspectivas.
Fernando J.P. Neme