Escorregamentos
Naturais na Serra do Mar
As
características geológicas da Mata Atlântica, em especial ao logo da faixa
litorânea do sudeste brasileiro, que aliada à sua topografia acidentada, apresenta
encostas instáveis aos escorregamentos. Acima
do subsolo rochoso das montanhas escarpadas da Serra do Mar encontra-se uma estreita
camada de solo, rico em composto orgânico (formado basicamente de folhas e
galhos em decomposição), mas muito raso para a sólida fixação de raízes e
ainda, por questões de clima e meteorologia, a região tem índices
pluviométricos altos, assim, as plantas na região recebem muita incidência
solar (trópicos), com solo rico em nutrientes (compostos orgânicos) e
abundância de água (chuvas) o que propícia um excelente desenvolvimento vegetal
transformando a floresta num local magnífico e exuberante.
Milhões
de anos foram necessários para moldar e formar o bioma, que se beneficia com os
seus escorregamentos naturais. A somatória do excesso de chuva, penetração rasa
da água, facilidade de encharcamento do material em decomposição e acentuada
declividade com rochas lisas na base propiciam grandes escorregamentos de massa
morro abaixo e desta “destruição” são abertas enormes clareiras extremamente
necessárias para a renovação da floresta.
Nestas
clareiras a incidência de sol aumenta e forma o ambiente ideal tanto para o
brotamento das árvores pioneiras, quanto para o alastramento das ervas
invasoras. Com o trabalho conjunto, as ervas protegem o solo exposto e as
plantas pioneiras, de crescimento rápido e ciclo de vida curto (por volta de 20
anos) vão fornecer a sombra necessária para controlar as ervas invasoras e principalmente,
proporcionar a proteção solar necessária para as demais sementes de árvores
secundárias e clímax do bioma germinarem e se consolidarem.
A
ciência geotécnica brasileira é bem avançada e possui muito conhecimento sobre
a dinâmica dos escorregamentos naturais e dos escorregamentos induzidos pelo
homem e fica bem claro que numa região tão instável como é a Serra do Mar, o homem
só deveria intervir se realmente indispensável e sempre acompanhado de todos os
cuidados técnicos existentes.
As
ocupações urbanas que se estendem por estas encostas, de regra, produzem fatalidades
que agravam a situação de risco e induzem os escorregamentos. Entre elas, não
projetar com curvas de nível, fazer cortes e aterros desnecessários, canalização
reta da drenagem que aumenta a velocidade de descida da água e impede a sua absorção
pelo solo, fossas de infiltração, depósitos de lixo etc., constituem verdadeiras
tragédias anunciadas.
Com
o histórico desrespeito ao Código Florestal Brasileiro, desde 1965 e atualmente,
com esta aberração votada pela Câmara dos Deputados, no dia 25 de abril de
2012, desprotegendo o topo de morro, perdendo a chance de regulamentar os
espaços urbanos que somando as mudanças climáticas mundiais em curso, as mortes
serão em maior número e totalmente inevitáveis, atingindo a população de todas
as classes sociais, que sofrerão agruras pela cegueira científica mais a ganância
imediatista de poucos.
Fernando J.P. Neme
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