sexta-feira, 27 de abril de 2012


Escorregamentos Naturais na Serra do Mar
As características geológicas da Mata Atlântica, em especial ao logo da faixa litorânea do sudeste brasileiro, que aliada à sua topografia acidentada, apresenta encostas instáveis aos escorregamentos.  Acima do subsolo rochoso das montanhas escarpadas da Serra do Mar encontra-se uma estreita camada de solo, rico em composto orgânico (formado basicamente de folhas e galhos em decomposição), mas muito raso para a sólida fixação de raízes e ainda, por questões de clima e meteorologia, a região tem índices pluviométricos altos, assim, as plantas na região recebem muita incidência solar (trópicos), com solo rico em nutrientes (compostos orgânicos) e abundância de água (chuvas) o que propícia um excelente desenvolvimento vegetal transformando a floresta num local magnífico e exuberante.
Milhões de anos foram necessários para moldar e formar o bioma, que se beneficia com os seus escorregamentos naturais. A somatória do excesso de chuva, penetração rasa da água, facilidade de encharcamento do material em decomposição e acentuada declividade com rochas lisas na base propiciam grandes escorregamentos de massa morro abaixo e desta “destruição” são abertas enormes clareiras extremamente necessárias para a renovação da floresta.
Nestas clareiras a incidência de sol aumenta e forma o ambiente ideal tanto para o brotamento das árvores pioneiras, quanto para o alastramento das ervas invasoras. Com o trabalho conjunto, as ervas protegem o solo exposto e as plantas pioneiras, de crescimento rápido e ciclo de vida curto (por volta de 20 anos) vão fornecer a sombra necessária para controlar as ervas invasoras e principalmente, proporcionar a proteção solar necessária para as demais sementes de árvores secundárias e clímax do bioma germinarem e se consolidarem.
A ciência geotécnica brasileira é bem avançada e possui muito conhecimento sobre a dinâmica dos escorregamentos naturais e dos escorregamentos induzidos pelo homem e fica bem claro que numa região tão instável como é a Serra do Mar, o homem só deveria intervir se realmente indispensável e sempre acompanhado de todos os cuidados técnicos existentes.
As ocupações urbanas que se estendem por estas encostas, de regra, produzem fatalidades que agravam a situação de risco e induzem os escorregamentos. Entre elas, não projetar com curvas de nível, fazer cortes e aterros desnecessários, canalização reta da drenagem que aumenta a velocidade de descida da água e impede a sua absorção pelo solo, fossas de infiltração, depósitos de lixo etc., constituem verdadeiras tragédias anunciadas.
Com o histórico desrespeito ao Código Florestal Brasileiro, desde 1965 e atualmente, com esta aberração votada pela Câmara dos Deputados, no dia 25 de abril de 2012, desprotegendo o topo de morro, perdendo a chance de regulamentar os espaços urbanos que somando as mudanças climáticas mundiais em curso, as mortes serão em maior número e totalmente inevitáveis, atingindo a população de todas as classes sociais, que sofrerão agruras pela cegueira científica mais a ganância imediatista de poucos.
Fernando J.P. Neme