sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Luto pelas árvores

Aos que me acompanham nos artigos e nos contos que escrevo sabem que eu gosto de brincar com as palavras. Costumo colocar duplos sentidos nelas, porque a verdade não está no que escrevo e nem nos entendimentos de quem lê, mas está nas entrelinhas preenchendo o espaço entre nós dois.

Da minha vida faz parte o engajamento e alguns trabalhos pela preservação do meio ambiente, mas hoje o meu luto pelas árvores é de pesar e dor.

Especialmente nesta semana, li uma reportagem que na cidade de São Paulo caíram mais de cento e sessenta árvores após as chuvas torrenciais que aconteceram. E para completar a odisséia ouvi muitas reclamações com viés de verdadeiras pragas contra nossas companheiras árvores.

Muitos as insultam quando caem nas ruas, quando “sujam” suas calçadas e seus automóveis, quando se encontram com os fios dos postes e outros mais adoram cimentar suas raízes com a intenção de sufocá-las e matá-las.

Apesar de tudo isto as árvores continuam recolhendo os restos do solo para transformá-los em seiva da vida; insistem em trocar o ar poluído por ar puro para nós e ainda se satisfazem produzindo frutos, flores, proteção e sombra sem se importar se quem vai usufruir são bandidos ou santos. As árvores simplesmente cumprem o seu papel mesmo contra todas as adversidades. Nós somos humanos e elas são dignas da humanidade.

Hoje estou de luto por nossas companheiras caídas, que lutaram contra todas as adversidades e tombaram de forma heróica nos ensinando lições até na morte. Lições de falta de respeito para com elas, lições de que a ganância por concreto não gera vida e principalmente as lições de urbanismo.

No passado havia uma calçada, um quintal na frente da casa e uma construção no meio do terreno até o “progresso” nos encaixotar em cubículos suspensos. Aquela árvore da calçada que não pode ser removida e é mal conservada pelo poder municipal vai ser podada drasticamente em sua copa porque os fios do futuro são importantíssimos e suas raízes serão arrancadas para que o povo encaixotado possa colocar suas caixinhas andantes em estacionamentos cobertos debaixo da terra (esta constatação sobre o Povo Caixa foi criada por um grande chefe indígena norte-americano).

Como pode uma árvore onde lhe é podada o equilíbrio da copa e decepada a fundação das suas raízes ficar de pé nas tempestades com ventos canalizados pela engenharia da construção de prédios? Qual a culpa deste ser vivo? Qual a razão de tanto ódio contra estas inocentes?

Hoje realmente estou de luto pelas nossas companheiras e mais ainda pela falta de percepção daqueles que ainda se consideram seres humanos.

Fernando J.P. Neme (fev/2011)

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