A Economia Solidária como
protagonista do desenvolvimento socioambiental
É possível conceituar a
Economia Solidária como uma forma de produção, consumo e
distribuição de riquezas, que tem como foco principal a valorização do ser humano,
ante o capital. Nasceu no final do século XIX, com sementes nos movimentos cooperativistas e está evoluindo com o tempo.
Na sua raiz nós encontramos o entendimento do
trabalho como um meio de libertação humana, democratização econômica, e
distribuição de renda mais uniforme e local. Reivindicações estas que se
contrapõem ao universo de produção capitalista e as suas alienações de mercado,
ineficiente distribuição de lucros, e o limitante sistema assalariado.
A inovação da Economia Solidária é o seu poder de
aglutinação, pois tanto no dia a dia das suas atividades, quanto no seu processo
de implantação, trabalha com múltiplas dimensões de desenvolvimento, ou seja,
além da relevância do aspecto econômico, inclui o social, político, ecológico, cultural,
cidadania, proteção e defesa dos direitos dos grupos de risco e minorias, entre
outros.
As três dimensões mais presentes na Economia
Solidária são:
a) Econômica: que engloba a produção, comercialização, portifólio de serviços,
microcréditos (financiamento ou consumo) baseado na autogestão
(responsabilidade individual, associativa, cooperativa, ou de grupos, mais o empreendedorismo).
b) Cultural: que engloba o entendimento de pertencimento local,
comunitário, de uma bacia hidrográfica ou de um bioma, acrescido de uma forma sustentável
de consumo, por exemplo, a opção racional por mercadorias advindas da produção
socioambiental responsável, através do comércio justo (com o mínimo de atravessadores
possíveis), feitos por artesãos diversos, pequenas e médias empresas,
fabricados no menor raio possível da sua casa (produção local), enaltecendo os
recursos naturais do entorno, valorizando o seu vizinho, tudo preenchido com valores
de cooperação, inteligência coletiva, liberdade e partilhamento, e
principalmente, se contrapondo à competição esdruxula.
c) Política: movimento que pleiteia e trabalha por mudanças e inclusões sociais, pela solidariedade, sem se promiscuir com o assistencialismo improdutivo. Fazendo oposição ao poder subjugador dos conglomerados financeiros, econômicos e empresariais, dos latifúndios e seus modos de produção, e contra a concentração de riquezas.
A Economia Solidária está representada no país
pelo FBES (Fórum Brasileiro de Economia Solidária), organizado em mais
de 160 Fóruns Municipais, Microrregionais e Estaduais, envolvendo diretamente
mais de 3.000 empreendimentos de economia solidária, 500 entidades de
assessoria, 12 governos estaduais e 200 municípios pela Rede de Gestores em
Economia Solidária.
Atualmente os principais desafios para o melhor
desenvolvimento da Economia Solidária no Brasil são: estruturação da
comercialização (formação de redes solidárias e mercado solidário), manutenção
da consistência ecológica (fidelidade ética), aprimoramento das políticas
públicas de incentivo (injeção de ânimos na Secretaria Nacional de Economia
Solidária), e mais contribuição técnico-científica (capacitação e formação de trabalhadores,
mais interesse acadêmico por pesquisas e desenvolvimento de tecnologias e
produtos).
Um ponto positivo, amplamente testado e aprovado,
foi a sugestão da Comunidade Internacional Bahá’i, historicamente acolhida e
difundida pela ONU, e que hoje encontramos implantada de diversas formas, nas
mais variadas esferas e atividades do governo brasileiro, da confiabilidade e
enaltecimento da mulher trabalhadora, em especial nos contratos de concessão de
microcrédito, onde o dinheiro disponibilizado é depositado na conta da mulher (família,
mãe, esposa ou companheira), emplacando mais eficiência na ação, zelo ao
patrimônio e credibilidade no investimento. Confiando nos valores do universo
feminino, e derrubando barreiras de preconceitos machistas.
Fernando J.P. Neme
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